O que o Veganismo tem a aprender com as Culturas Originárias

materias_produtosindustrializadosDescolonizar a alimentação é um passo necessário para se dar quando se busca autonomia alimentar. Nossa alimentação normatizada pela ocidentalização de nosso cotidiano torna-se cada vez mais padronizada e menos criativa. Porém, quando falamos sobre veganismo, poderíamos traçar hábitos alimentícios que fogem a essa normatização através da investigação e introdução de novos ingredientes em nosso cardápio cotidiano, certo?

A crise alimentar pela qual passamos na atualidade é epistêmica e política, sendo resultado da imposição do conhecimento tecnológico e científico aos conhecimentos tradicionais. Estaríamos vivendo um “fundamentalismo científico”, onde o saber alimentar é colonizado pela tecnologia e transplantado para laboratórios. Com isso o que vemos é um veganismo cada vez mais mercadológico, sendo marcado pelo uso excessivo de processados e enlatados, chegando até ao consumo de alimentos totalmente manipulados. Tal marca significa uma das maiores ameaças à segurança alimentar enfrentadas na história da humanidade: O NEOLIBERALISMO. Sua lógica, que se tornou o status quo nos últimos 70 anos e valoriza o ‘mercado livre’ global, manifesta-se por políticas econômicas que facilitam a privatização, a desregulamentação e os cortes nos investimentos sociais, assim como um discurso que promove a competição, o individualismo e a automercantilização.

Instigadas em suplantar tal ameaça através da resistência, nós buscamos inspiração nos saberes das Culturas Originárias acerca dos alimentos e do ambiente, os quais foram invisibilizados e colonizados pelos saberes europeus. Tais saberes não seriam apenas interdisciplinar (formado pelo contato entre as diversas áreas de conhecimento, como a biologia e a geografia), mas também intercultural, ao conjugar as mais diversas experiências étnicas. Para os Zapatistas, como exemplo, resistência consiste em revitalizar suas visões indígenas recuperar as terras roubadas, emancipar-se da dependência do agronegócio industrial das multinacionais, e viver em desafio aberto ao capitalismo global.
zapatistas03-1024x669Neste sentido, o próximo SABATAMA trará das culturas originárias uma bola de fogo para combater as culturas neoliberais que insistem em assimilar nossas práticas e ações por emancipação. Exatamente, uma bola de fogo trazida das comunidades iorubás para saudar suas deidades que lutam juntamente a nós contra a supremacia eurocentrada.

O ACARAJÉ

175Uma receita que viajou desde o Oriente Médio até a África Ocidental mudando de nome e de ingredientes base em cada local que chegava, adaptando-se ao meio e à cultura, mas mantendo o mesmo fundamento. Fundamento tal que destrói com a cultura da soja e das proteínas criadas em laboratório nos meios veganos, uma vez que parte do princípio de ser uma leguminosa (espécie riquíssima em proteína) hidratada, processada e frita. No Oriente Médio recebeu o nome de Falafel sendo feito a partir do grão-de-bico e da fava, mas na África Ocidental sendo feito a partir do feijão macassar recebeu este nome, que em iorubá significa “comer-bola-de-fogo”.

Esta bola de fogo nos surpreende também por valorizar seu próprio ingrediente básico que tendo sua origem designada à África adaptou-se harmoniosamente ao nosso clima, sendo inclusive muito utilizado por trabalhadorxs rurais devido seu alto índice proteico e energético. É ainda, se tratando do nordeste brasileiro, de fácil cultivo em solo pouco fértil e com período de seca prolongado.
14333729_1237574756294075_99261225785341147_nSem mais delongas, vamos nos aprofundar cada vez mais em nossas ancestralidades e além do acarajé, nosso almoço estará completo com Caruru e Vatapá, que culturalmente acompanham tal iguaria e preservam entre si a mesma origem africana, além de Arroz e Salda PANC.

E seguimos nós na busca por construir uma cultura alimentar autônoma, com foco local, para desviar-nos da cultura hegemônica e garantir a equidade de gênero e a soberania alimentar.