Preconceito e criminalização do rap e hiphop marca o 3º Festival Vegano de Mogi das Cruzes – SP

No dia 28/08 a “JMA – J’adore Mes Amis”, realizou em Mogi das Cruzes, no interior paulista, o Arraial Vegano e 3º Festival Vegano de Mogi das Cruzes. O evento, apoiado pela prefeitura municipal, contou com arrecadação de ração, arroz, medicamentos, material reciclável e cobertas, para bichos resgatados, famílias humanas em situação de vulnerabilidade social e ongs que atuam na proteção animal, além de adoção de cães realizada pelo Grupo Fera. Contudo apesar de pensar estruturalmente numa ação vegana que conecta proteção animal e redistribuição à população marginalizada, O rapper Marcos Favela, que traz em suas músicas temas como veganismo e luta de classes, denunciou que ele e seus convidados foram vítimas de preconceito, censura, discriminação, calúnia e criminalização de seu trabalho, fato que ainda não foi comentado publicamente pelos organizadores, tampouco na página do evento.

O que mais chama atenção é que o rapper, a pedido da organização, montou toda a programação cultural do evento, convidando Mistura de Fatos, Dy Loko, Binho Brown, Poeta Xavier e Dj Nanny Max, atuando não só como artista, mas também como produtor e curador para o evento. Após o início das apresentações todo o grupo foi surpreendido com uma denúncia anônima de que os artistas estavam fazendo apologia ao crime, certamente pelo gênero musical apresentado pelos artistas serem hiphop/rap. O relato do rapper deixa claro que, apesar de crentes que a denuncia não partiu da organização do evento, a mesma não enfrentou e tratou a situação com repúdio, muito menos localizou politicamente a gravidade das ameaças e do constrangimento contra os músicos. A criminalização do rap, hiphop e funk faz parte de uma estratégia fascista de neutralizar e eliminar manifestações culturais protagonizadas pela população negra e pobre, a fim de higienizar os ambientes e os espaços públicos impondo suas concepções retrógradas e limitadas sobre arte e cultura.

É abominável ver o veganismo associado a este tipo de postura, porém não surpreende ao nos deparar com a frase em francês que nomeia a iniciativa organizadora. Por ser um evento onde o público é majoriariamente branco e classe média, o combate enfático a estas reproduções se faz necessário, para que se afirme a luta pelos direitos animais com o repúdio de valores igualmente opressores e violentos com outros humanos e outras culturas que questionam e atacam a supremacia branca e a hegemonia capitalista.

É pela ausência e inércia dos meios de comunicação veganos que ajudaram a divulgar o evento, que a Dhuzati reconhece a importância do rap e do hiphop na propagação da causa vegana e principalmente no combate ao elitismo dentro do veganismo. Vemos isto como uma necrose que está transformando uma luta por justiça e equidade entre as espécies em padrão de consumo e estilo de vida. Além de não compactuar com nenhuma atitude fascista, prestamos solidariedade e damos visibilidade a este absurdo na tentativa de disputar um fazer antiespecista enquanto movimento social, seguindo por uma ética política que resiste aos desmandos e combate com vigor as violências de uma hegemonia racista, cisheterosexista e elitista.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Eu Marcos Favela , fui convidado a apresentar minhas canções de Rap no evento Arraial Vegano 3º Festival Vegano de Mogi das Cruzes na data de 28 de Julho de 2019 e como todxs sabem, minhas canções abordam temas como Veganismo, abolicionismo humano e não humano, além temas como a luta de classes e repúdio a todas as formas de ódio contra minorias.

Além da minha apresentação , a organização do evento me pediu para convidar mais artistas do Rap/Hip Hop , assim , convidei os os artistas Mistura de Fatos , Dy Loko , Binho Brown , Poeta Xavier e Dj Nanny Max. Houve uma grande mobilização de todxs artístas e da própria organização na divulgação do evento.

Iniciamos nossa atividade com discotecagem da Dj Nanny e em seguida os artistas MaxFlow e Dy Loko começaram a fazer rimas improvisadas , circulando em meio as barracas de expositores , citando na rima os mais diversos produtos que ali estavam sendo vendidos, teve até improviso sobre a barraca de adoção do Grupo Fera, todo mundo estava curtindo. Até que, recebemos a notícia que alguém fez uma ligação para a organização, falando que o nosso Rap faz apologia ao crime , drogas e violência. É claro que a pessoa ou pessoas que fizeram tal denúncia , não se apresentaram , não tiveram coragem de nos encarar e dialogar com honra.

A organização veio até mim, dialogar para tentar reverter a situação, porém naquele momento só haveria 2 alternativas ou a organização se mantivesse firme e nós daríamos continuidade a nossa apresentação ou nós teríamos que encerrar nossa apresentação. Lamentavelmente, fomos obrigados a encerrar nossa apresentação, para que a pessoa ou pessoas que fizeram tal denúncia, pudessem continuar a girar a engrenagem do capital e assim a feira continuar sua programação de venda.

Na hora eu pensei em pegar o microfone e literalmente explodir, por para fora todo aquele sentimento de angústia e revolta, porém, não o fiz, por saber que ali, havia muito mais pessoas que entendem que o veganismo vai muito além do paladar e esses pessoas não mereciam ouvir palavras agressivas naquele momento. Sabemos que o motivo do cancelamento não partiu da organização do evento, porém, é nítido, que o capital ainda está acima da cultura, da informação e da denúncia através do Rap/Hip Hop.

Esse fato só nos mostra o quanto o veganismo ainda está enraizado no capital , na escravidão do paladar , em interesses pessoais. Muito se fala em tornar o mundo melhor através do veganismo, porém em Mogi das Cruzes (lê-se algumas poucas pessoas), esse mundo melhor aparentemente não cabe a linguagem de rua (rap/hip hop).

Em pleno 2019 a cidade de Mogi das Cruzes, diga-se de passagem, uma cidade repleta de coronéis, ainda vive a Cultura seletiva, que domina, que da as ordens.

Meu mais profundo carinho a todxs que se mantém na linha de frente do veganismo além do paladar e do capital e não se curva perante as ordens dos coronéis. Peço desculpas em nome de todxs do Rap/Hip Hop que ali se apresentariam , em especial peço desculpas ao público que esperava nossa apresentação.”

Marcos Favela