Ame os porcos, combata a polícia

O principal cruzamento entre racismo e especismo se dá pela conceito da dicotomia animal x humano que foi universalizada pela supremacia branca através do colonialismo moderno. A dominação colonial estabeleceu a ideia que as populações negras e indígenas eram inferiores equivalendo-as ao status dos animais não humanos, que ainda hoje são utilizades pelo modelo civilizatório da supremacia branca como objetos, máquinas e escravos. 

Desta forma, as violências que fundamentaram a estigmatização destas populações e o racismo moderno, tem no especismo sua base política e filosófica. Porém, o racismo se desenvolve de forma específica e se sofistica, fazendo com que sua operação na contemporaneidade nada tenha a ver com o especismo. 

Nos Estados Unidos, tornou-se notório nos protestos antiracistas o uso da cabeça de porco como forma de afronta e provocação contra a política de extermínio da comunidade negra pela polícia. Como pessoas negras achamos uma péssima ideia, além de violento, fazer uma comparação depreciativa de animais com humanos nas lutas por libertação, resgatando o princípio racista que justificou o sequestro e a escravidão da população negra, bem como, reafirmar o princípio especista que justifica animais poderem serem violentados e usados como objetos, apenas por não serem humanos. Da mesma forma que estamos aptas para apontar e denunciar o racismo nos movimentos antiespecistas, para nós, lutar contra o racismo reproduzindo especismo é um tiro no pé.

Embora acreditamos que os porcos não foram assassinados pelas pessoas que estavam protestando e sim por açougues que lucram com o esquartejamento de seus corpos, nada justifica comparar animais inteligentes, sensíveis, capazes de cooperação coletiva e empatia com os colaboradores de uma instituição que funciona através da alienação de pessoas que ganham privilégios, poder e dinheiro para proteger grandes fortunas e violentar vulneráveis e marginalizados recorrendo a instrumentos de coação, tortura, agressões e assassinatos.

No Brasil, a violência racista contra negres e indígenas visa o extermínio dessas populações por genocídio e etnocídio, em meio a assassinatos e assimilações, fazendo com que os sobreviventes reneguem seus marcos culturais e seus ancestrais, para cultuar a supremacia que os dominam. Já o especismo funciona, dentre outras formas, na exploração  dos corpos dos não humanos e seus cadáveres para transformá-los em riquezas, assassinando corpos de bichos silvestres e domesticados para capitalizar seus cadáveres, seu uso enquanto objeto (que pode ser vendido ou descartado) e na atribuição de trabalho forçado e gratuito para proteger patrimônios e acumular riquezas. Estas operações distintas e não similares fazem a comparação rasteira entre opressões ser um desserviço para ambas as lutas: não destrincha os eixos lógicos e funcionais de dominação e controle. 

Como iniciativa fundada e construída em princípios libertários, sempre em prol das lutas por emancipação, acreditamos que a melhor forma de provocar a polícia e vingar nosso povo, não só dos Estados Unidos, mas do mundo inteiro é erguer a cabeça de um assassino e genocida de farda. Jamais um animal não humano pode representar o escárnio que sustenta o braço armado do Estado que executa o monopólio da violência para privilegiar poucos. A comparação com indivíduos desta instituição é uma ofensa imensa aos suínos de todas as espécies. 

Recentemente, um porquinho foi encontrado ferido nas margens da BR-290 no Rio Grande do Sul, como a fuga de porcos em estradas é comum, especula-se que conseguiu fugir de seu confinamento e pular do caminhão que o transportava para o abateudoro. Embora esteja sem os movimentos das pernas, este porquinho foi resgatado, ganhou o nome de Pingo e hoje vive no Santuário Voz Animal em Eldorado do Sul, tornando simbolo de luta e resistência pela Libertação Animal. Você pode acompanhar a história de Pingo no instagram.com/pingodecompaixao, como também pode fazer doações para o santuário https://www.instagram.com/sant_vozanimal/.