Racismo alimentar: a treta da polenta x angu

Você sabia que feijão com milho é uma combinação tipicamente sudaka? Aos olhos capturados pelo processo colonizador esta textura na base do prato remete a polenta, os mais próximos de saberes afrocentrados, apostarão no angu, enfim, compartilharemos informações para desmontar a colonização alimentar e regar-nos com outras referências. Para tanto, precisamos saber que alguns ingredientes que constitui a culinária europeia como, tomate, batata e milho, só chegaram lá depois do maior programa institucional de genocídio, animalcídio e extrativismo da história da humanidade: a colonização moderna — portanto tomate italiano e batata inglesa são ficções alienadoras ok?

angu com leguminate, mix de leguminosas no molho de tomate

Na região da península itálica, se faziam um mingau com aveia, arroz ou trigo desde antes de cristo, porém, a chegada do milho na Europa e sua incorporação na polenta, guarda um segredo: No século XVIII, camponeses estavam sofrendo de uma doença degenerativa inédita, a pelagra, cujas causas eram atribuídas a dieta deficiente no aminoácido niacina. Enquanto os povos indígenas das Américas aprenderam o processo de nixtimação, cozinhando grãos de milho secos com cal ou cinza de madeira para liberar niacina e suplementando a alimentação com feijão e tomate, sem saber, gerações de habitantes rurais italianos pularam essa etapa no processo de fabricação da polenta e pagaram fatalmente por sua ignorância.

Por outro lado os Iorubas, Hauças e Fulas também manipulavam raízes carboidratos para preparem pratos típicos de sua alimentação conhecidos como ugali, fufu, ngima, kwon e ogi. Ao serem sequestrados em direção ao Brasil, em contato com o milho nativo e com a sabedoria dos povos indígenas do sul, chegaram numa receita que ficou conhecida como angu, inicialmente caracterizada como comida de escravo e selvagem, mas que teve rapidamente aceitação em todas as classes sociais.

O mais interessante desta história é que quando a polenta chega no Brasil, no século final do XIX, com os imigrantes italianos, o angu já era reconhecido como iguaria popular, porém teve sua história, os conhecimentos e as referências que a integram apagados pela gastronomia. Alguns chefs e outros idiotas lambe botas do processo civilizatório aponta como principal diferença entre angu e polenta, a granulatura da farinha de milho, vejam bem, não basta, ter a morte de milhares de camponeses marcada pela falta de habilidade no uso do milho e usurpar o lugar de uma comida que já estava na cultura deste cemitério bovíno, suíno, aviário, indígena e negro, se faz necessário também apelar para a granulatura da farinha para tentar atestar algum tipo de originalidade em uma receita que para nós, deve resgatar uma reparação afroindígena.

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